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O Mito do Clube dos 27: Como as Superstições Influenciam a Fama de Músicos

um mural "27 club" de Eduardo Kobra na 170 Forsyth Street e Rivington Street, no Lower East Side de Nova York. Edward Westmacott/Alamy Banco de Fotos

O mito de que músicos e artistas famosos morrem aos 27 anos é uma das superstições mais persistentes na cultura contemporânea. Estrelas como Janis Joplin, Jimi Hendrix e Amy Winehouse se tornaram ainda mais conhecidas devido a essa narrativa que associa a morte prematura à idade de 27 anos. Mas como esse mito surgiu e por que ele continua a capturar a atenção do público?

A Origem do Mito: O “Clube dos 27”

Grafite do Clube dos 27 em Tel Aviv, representando vários membros do clube. Da esquerda para a direita: Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Jean-Michel Basquiat, Kurt Cobain e Amy Winehouse.[1]

O sociólogo Zackary Dunivin, atualmente na Universidade da Califórnia, Davis, teve uma epifania ao assistir a um filme sobre o artista Jean-Michel Basquiat. No epílogo do filme, uma informação chamou sua atenção: Basquiat morreu de overdose aos 27 anos. Isso não era apenas uma coincidência. Basquiat, assim como outras estrelas que faleceram aos 27 anos, se encaixava no famoso “Clube dos 27” — um grupo não oficial de artistas que morreram nessa idade e que ajudaram a alimentar o mito de que algo sobrenatural ocorre quando se chega aos 27.

O conceito de que figuras talentosas e criativas são mais propensas a mortes prematuras remonta a séculos atrás. O dramaturgo grego Menandro, no século IV a.C., já dizia: “Os que os deuses amam morrem jovens”. No entanto, o mito moderno do “Clube dos 27” ganhou força a partir das mortes de músicos como Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison, todos ocorrendo entre 1969 e 1971. Essas mortes, coincidentemente, aconteceram em um período de grande transformação cultural e política, durante o auge da contracultura dos anos 1960 e início dos anos 1970.

A Reforço do Mito: A Morte de Kurt Cobain e Amy Winehouse

Embora o mito do Clube dos 27 tenha surgido na década de 1970, ele foi revivido por outras mortes trágicas de músicos famosos, como Kurt Cobain (1994) e Amy Winehouse (2011). Esses artistas se tornaram ícones não apenas por seu talento, mas também pelo trágico fator comum de sua morte precoce aos 27 anos. A repetição dessas mortes alimenta a ideia de que existe algo inevitável ou até místico ligado a essa idade específica.

A Evidência Empírica: Fama Aumentada para os que Morrem aos 27

Para entender melhor o fenômeno, Dunivin e seu coautor, Patrick Kaminski, realizaram um estudo empírico analisando dados de pessoas famosas que morreram entre 1900 e 2015. Usando uma base de dados de indivíduos notáveis com uma página na Wikipédia em vários idiomas, os pesquisadores examinaram 344.156 pessoas, incluindo músicos, artistas, políticos e outros. A conclusão foi clara: não há aumento significativo de risco para indivíduos morrerem aos 27 anos. No entanto, entre as figuras mais famosas, aqueles que faleceram aos 27 anos tiveram um aumento notável de popularidade após a morte, algo que não ocorria com as pessoas que morreram um ou dois anos antes ou depois dessa idade.

Dessa forma, embora a morte aos 27 anos não seja mais comum, ela está associada a um aumento na notoriedade, o que reforça o mito do Clube dos 27. Este fenômeno é mais evidente entre as figuras do “99º percentil de fama”, ou seja, aquelas cujas mortes atraem um nível excepcional de atenção global.

Como Mitos Culturais Crescem e Se Espalham

O estudo de Dunivin e Kaminski reflete como mitos culturais podem surgir e crescer através da interação entre a narrativa e o público. “Somos máquinas de fazer sentido”, afirma Dunivin. Ao observar uma série de mortes trágicas, as pessoas tendem a buscar uma explicação, criando uma história que liga essas mortes a um fator comum, como a idade de 27 anos. Esse mecanismo de “feedback” aumenta a fama dos artistas e reforça o mito, fazendo com que cada novo caso de morte precoce a essa idade pareça confirmar a ideia.

Para o sociólogo Omar Lizardo, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, o estudo é um excelente exemplo de como a sociologia pode usar dados modernos para estudar mitos e narrativas. “O trabalho de Dunivin e Kaminski é uma grande contribuição para o campo do folclore computacional, fornecendo uma nova maneira de entender como narrativas culturais ganham força e mudam a percepção pública”, diz Lizardo.

Conclusão: O Fascínio Contínuo pelo Clube dos 27

Embora o mito do Clube dos 27 seja amplamente desacreditado pela pesquisa acadêmica, sua persistência na cultura pop revela o poder das superstições e das histórias que criamos para entender a morte e a fama. Músicos e artistas que morrem prematuramente são, por natureza, tragédias que capturam a imaginação do público, mas, no caso do Clube dos 27, essa tragédia se transforma em um mito que aumenta a notoriedade de suas figuras.

A morte precoce de artistas talentosos continua a ser um tema fascinante, e o Clube dos 27, com sua aura de mistério e fatalidade, continuará a ser um ícone cultural, alimentado tanto pela superstição quanto pela fama.

Fontes:

  • Original publicado por Rachel Nuwer, jornalista científica e autora de I Feel Love: MDMA and the Quest for Connection in a Fractured World (Bloomsbury, 2023). Leia o artigo original aqui.

Créditos:

  • Pesquisa conduzida por Zackary Dunivin e Patrick Kaminski.

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